quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Marketing Pessoal, planejamento de carreira e empreendedorismo



Nosso país possui um grande contingente de jovens recém-formados que estão desempregados e com poucas perspectivas de crescimento, o que consiste em desperdício de recursos humanos e talentos. Qual a sua opinião sobre esse cenário?

Mario Persona -
 A formação acadêmica é ainda vista da forma como era vista quando eu era universitário, há uns 30 anos. Naquele tempo havia poucas universidades e poucos profissionais com curso superior. Em algumas profissões, o diploma universitário era garantia de emprego. Além disso, quem conseguia passar no vestibular precisava estar realmente preparado, pois o próprio ensino que antecedia o curso superior criava filtros bastante eficazes de retenção dos menos preparados. O curso superior, por todas as dificuldades do acesso, era algo reservado a poucos, e muitas universidades tinham seus principais cursos de tempo integral, impedindo o universitário de trabalhar e estudar.

Hoje, faculdade virou commodity. Há um excesso de vagas e, dependendo de onde você decida estudar, a dificuldade de passar em um vestibular quase não existe. O número de opções também é grande, com faculdades funcionando à noite e algumas virtualmente. Então diploma, que todo mundo acaba conseguindo de um jeito ou de outro, já não é garantia de emprego. É condição necessária para competir no mercado, mas não é mais suficiente. Qualificação, sim, é o que a maioria dos recém formados por aí precisa conseguir urgente.

Acho que o que existe por aí não é um desperdício de talentos, pois muita gente que conseguiu se "formar" ainda não está realmente "formada" ou preparada para o mercado. O número de diplomados não representa necessariamente o número de talentos disponíveis ou preparados. Conheço pessoas com curso superior que jamais teriam saído do segundo grau se tivessem estudado há 40 anos, já que são incapazes até de escrever um parágrafo de texto sem erros. Qualquer empresário ou profissional de talentos humanos que esteja envolvido em seleção e contratação de pessoal irá concordar que o que existe não é desemprego, mas falta de qualificação.

Como fazer para ressaltar habilidades e competências pessoais, melhorando o marketing pessoal sem virar um marketeiro fajuto?

Mario Persona - 
É um equívoco pensar em marketing pessoal como propaganda pessoal. Existe o aspecto da propaganda, mas essa tem muito pouco valor no marketing pessoal pois o tiro tem maiores chances de sair pela culatra ou de acertar o próprio pé. Quando o profissional é ruim, pouco qualificado e incapaz de exercer qualquer função, o melhor é que ninguém saiba que ele existe até conseguir se qualificar. Se fizer uma boa propaganda de si mesmo nessas condições correrá o risco de ficar muito conhecido como um péssimo profissional.

Aí a coisa fica ainda mais complicada, pois se ele fosse um produto qualquer, como sabão em pó, poderia simplesmente criar uma nova marca, uma nova embalagem, e ser relançado no mercado com algo como "nova fórmula", ou como aqueles botecos que costumam colocar uma faixa "sob nova direção". Não dá para fazer o mesmo com pessoas. Se eu for um profissional incompetente e ficar conhecido por isso, como poderei tentar voltar ao mercado dizendo que agora tenho uma "nova fórmula" ou que estou "sob nova direção"?

O networking é importante não só para os negócios, mas também para aumentar a rede de contatos, o que vale tanto quanto um bom currículo. Qual é a sua dica para alguém que está com problemas em administrar a sua rede de contatos?

Mario Persona - 
Grande parte das contratações ocorre por indicação, não por anúncios em jornais. A referência é sempre uma ferramenta que garante um certo grau de segurança para quem contrata, daí a necessidade de se manter uma boa rede de relacionamentos. Porém é difícil criar uma rede artificial se o profissional é de convívio complicado. Comportamento e atitude são coisas que realmente criam networking.

Muita gente pensa que só consegue criar um bom networking ou rede de relacionamentos quem vai a todas as festas, toma todas as cervejas ou pratica todos os esportes. Não é bem assim. Você pode ser uma ostra em seu convívio, mas se as pessoas com as quais convive perceberem que você é leal, honesto, dedicado, empreendedor, habilidoso e cheio de outras qualidades, elas vão se lembrar disso quando chegar a hora. Hoje há grandes profissionais que eram verdadeiros nerds em seus tempos de estudante, mas que tiveram portas abertas tão logo saíram da faculdade, ou até antes, porque tinham uma conduta que deixava uma marca positiva por onde quer que passassem.

Muitos estudantes estão, neste exato momento, perdendo uma grande oportunidade de criar redes de relacionamento nas salas de aulas das universidades. Aquele colega ao lado pode ser, em um futuro muito próximo, seu cliente, empregador ou parceiro de negócios. A maneira de alguém se conduzir na sala de aula ajudará a criar sua marca pessoal - boa ou ruim - que será lembrada depois pelos colegas quando todos tiverem deixado o cenário acadêmico para circular pelo cenário profissional e empresarial.

Em seu livro "Dia de Mudança", você fala da possibilidade de grandes empreendedores alcançaram o sucesso nos negócios a partir de um hobby. Como uma atividade que começa sem maiores pretensões, pode crescer e virar um grande negócio?

Mario Persona -
 Pessoas que fazem o que gostam de fazer costumam fazer bem feito. E ontem mesmo ouvi um amigo dizer que ele acredita que isso seja até o segredo da longevidade de alguns profissionais e empresários que continuam na ativa com mais de oitenta anos de idade. Um hobby é algo que você tem tanto prazer em fazer que já nem considera aquilo como trabalho.

Eu, por exemplo, tenho meu melhor momento quanto termino de escrever uma crônica. É um prazer muito parecido ao que eu tinha quando terminava um quadro no tempo em que desenhava e pintava. O mesmo acontece com uma palestra, um curso, um treinamento. Eu não trabalho, eu me divirto.

É claro que para chegar a ponto de poder trabalhar fazendo o que gosto - ensinar, escrever, ler e traduzir - precisei engolir muitos sapos em diferentes carreiras, empregos e profissões nem sempre fáceis de digerir. Mas hoje toda essa experiência serve de matéria prima para o trabalho que desenvolvo. Muita gente conseguiu isso, foi capaz de transformar seu hobby em profissão, ou fazer de sua profissão um hobby.

O problema é que às vezes interpretamos mal o conceito de hobby e achamos que isso só deve ser aplicado ao colecionador de selos, ao aeromodelista ou à bailarina, que abrem sua loja de selos, aeromodelos ou curso de dança. Uma pessoa que adora carros e abre uma oficina mecânica está transformando seu hobby em profissão. Conheço uma contabilista que adora números, coisa que odeio. É o hobby dela, jamais seria o meu.

A ressalva que faço em meu livro está relacionada ao problema da maioria dos hobbistas que, por não fazerem aquilo por dinheiro, acabam levando para a profissão a mesma idéia liberal e se dão mal. É preciso separar muito bem as coisas e saber administrar o hobby como negócio na hora em que o primeiro se transforma no segundo.

Você acredita que quando se abre um negócio pensando apenas em ganhar muito dinheiro e com muita ambição em jogo é possível prosperar? Por quê?

Mario Persona - 
É difícil afirmar isso, pois não basta ser ambicioso para progredir e vencer em um negócio ou profissão. Há pessoas que se acham ambiciosas, mas cuja ambição não passa de inveja. A ambição de ter ou ser pode cegar aquele que não percebeu que só se chega a algum lugar fazendo, e não apenas pensando positivamente em prosperidade ou sendo ambicioso. Não sei se foi Thomas Edison ou Einstein quem disse que um gênio é 1% inspiração e 99% transpiração, ou algo assim. Eu concordo.

Qual é o valor da educação no empreendedorismo?

Mario Persona -
 Educação simplesmente não transforma alguém em um empreendedor. Pessoas empreendedoras são pessoas com iniciativa. O empreendedor é aquele que percebe que a lâmpada está queimada e providencia a troca, joga no lixo a casca de banana que alguém deixou na calçada porque sabe que vai causar um acidente ou aprendeu que dinheiro não é para gastar, é para investir. Estas são apenas algumas qualidades de um empreendedor.

A educação, evidentemente, irá ajudá-lo a refinar suas qualidades, mas não será capaz de torná-lo um empreendedor, pois isso depende de atitude. Muitos grandes empreendedores jamais passaram do primeiro grau e hoje empregam doutores em seu rol de funcionários. É importante estudar, mas é muito mais importante saber usar na prática aquilo que você aprendeu, na escola e fora dela.

Você faz palestras em empresas com a finalidade de manter os profissionais bem informados e capazes de vencer a concorrência em um mercado cada vez mais competitivo. Quais os pontos principais que o escritor, consultor e estrategista Mario Persona aborda em suas palestras, seminários e workshops?

Mario Persona - 
Procuro trabalhar bastante a questão do comportamento, e isso relacionado ao tema da palestra ou do workshop, que pode ser vendas, estratégia, comunicação, criatividade etc. Quando aprendemos a nos comportar e a ler comportamentos damos um grande passo na aplicação daquilo que aprendemos de diversas fontes.

Dois dos pontos que considero os mais importantes para qualquer profissional ou empresa é comunicação e marketing. Tudo, em todas as profissões, gira em torno dessas duas áreas, além da especialidade propriamente dita. Um médico pode ser um gênio, mas se não souber comunicar sua genialidade ou identificar e atender as necessidades e expectativas de seus clientes, jamais sairá da estaca zero. Sua medicina não passará de uma era linha digitada em seu currículo.

Em seu site é possível encontrar crônicas que abordam os mais diferentes temas. Você acredita que a Internet seja um grande aliado na valorização da comunicação escrita?

Mario Persona - 
Eu não estaria atuando hoje da forma como atuo, não teria os livros que tenho e nem minha agenda ficaria como tem ficado se não fosse a Internet. E na Internet minha grande ferramenta de comunicação são meus textos. Ainda que alguém alegue que o futuro é dos vídeos, alguém precisa escrever o que vai ser dito ali. Mas, para poder dominar a Internet eu precisei vencer muitos paradigmas e derrubar preconceitos que tinha contra as novas tecnologias.

Usar o computador na década de oitenta foi meu primeiro grande desafio, já que odiava aquilo. Para entender aqueles sistemas operacionais e programas antigos era preciso uma boa dose de lógica, e nunca fui muito amigo da lógica ou da racionalidade. Foi só quando fiz do computador um hobby que consegui domesticá-lo e utilizá-lo para meu benefício. A Internet veio como conseqüência disso e estive entre os pioneiros no Brasil no uso da Internet para contar minhas histórias.

Hoje ainda encontro pessoas da minha geração que são resistentes às novas tecnologias, mas isso não me assombra tanto quanto encontrar jovens cuja familiaridade com novas tecnologias não passa do celular. É importante ser amigo da tecnologia, estar familiarizado com ela. Você não precisa saber para que servem todos os botões de seu controle remoto, mas é preciso saber usar bem os botões que servem para você.

Lemos muito sobre planejamento estratégico no que tange as corporações. E planejamento estratégico pessoal, você acredita que seja um processo para a construção de um futuro?

Mario Persona - 
Planejamento não é algo estático, mas dinâmico. E esse dinamismo vai aumentar cada vez mais à medida que o progresso continuar a nos surpreender. Em 1978, quando saí da faculdade, eu jamais poderia pensar que iria fazer o que faço hoje, e muito menos com as ferramentas que utilizo. Portanto, um planejamento estratégico pessoal ou de carreira de longo prazo naquela época teria sido fútil. Antigamente as empresas tinham planejamento de dez anos, depois de cinco anos, de três... Hoje muitas não têm certeza se daqui a algum ano estarão fazendo o que fazem hoje, tamanha a velocidade das mudanças.

Acredito, sim, que seja preciso ter alguma meta em mente, mas o caminho até lá, ou mesmo a própria meta, precisa ser flexível o suficiente para você ir corrigindo sua rota ao logo do tempo, ou até dar saltos em direções jamais sonhadas. Hoje o profissional precisa ter visão; um mapa muito detalhado pode até atrapalhar. Muita gente já bateu o carro tentando ler o mapa e dirigir ao mesmo tempo. Do jeito que as coisas andam, um binóculo pode ser mais útil do que um mapa.
Entrevista concedida ao portal eMiolo em 13/11/2007 para uma matéria sobre planejamento de carreira, marketing pessoal e empreendedorismo.

Entrevistas como esta costumam ser feitas para a elaboração de matérias, portanto nem tudo acaba publicado. Eventualmente são aproveitadas apenas algumas frases a título de declarações do entrevistado. Para não perder o que disse na hora e posso nunca mais conseguir dizer, costumo gravar ou dar entrevistas por escrito. A íntegra do que foi falado você encontra aqui. Se achar que este texto pode ajudar alguém, use o formulário abaixo para enviar.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. 

Fonte: www.mariopersona.com.br

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